terça-feira, 5 de março de 2019

CARNAVAL DE PODENCE


Podence é uma antiga freguesia portuguesa do concelho de Macedo de Cavaleiros, com 14,33 km² de área e 250 habitante. Antigamente chamada NOSSA SENHORA DA PURIFICAÇÃO, pertenceu ao concelho de Bragança em 1832, ao de Izeda em 1852 e, a partir de 1878, ao concelho de Macedo de Cavaleiros.
Local onde é possível contemplar a albufeira do, Azibo, que no Verão, é muito procurada para descansar e tomar banho nas águas límpidas desta.
Por esta altura do ano é visitada por turistas de várias localidades do país e alem fronteiras devido ao seu carnaval genuíno e tradicional com destaque para os "caretos", valor cultural preservado e de muito valor estando prestes a tornar-se "Patrimônio da Humanidade".
Pensa-se que a tradição dos Caretos tenha raízes célticas, de um período pré-romano. Provavelmente, está relacionada com a existência dos povos Galaicos (Gallaeci) e Brácaros(Bracari) na Galiza e no norte de Portugal. O careto usa fatos às riscas, com capuz, de cores garridas, feitos de colchas com franjas compridas de  vermelha, verde e amarela. Carrega bandoleiras com campainhas e enfiadas de chocalhos à cintura. Da sua indumentária faz também parte um pau ou cacete.
Citando o sítio oficial dos Caretos de Podence:
Os Caretos usam máscaras rudimentares, onde sobressai o nariz pontiagudo, feitas de couro, madeira ou de vulgar latão, pintadas de vermelho, preto, amarelo, ou verde. A cor é também um dos atributos mais visíveis das suas vestes: fatos de colchas franjados de lã vermelha, verde e amarela, com enfiadas de chocalhos à cintura e bandoleiras com campainhas. Da sua indumentária, faz também parte um pau que os apoia nas correrias e saltos. A rusticidade do ambiente é indissociável desta figura misteriosa.

























Os Caretos de Podence e o seu endiabrado Carnaval são o selo das máscaras transmontanas, ex-líbris de uma tradição que é comum a várias povoações do distrito de Bragança e cuja origem dificilmente se encontra num passado que é nebuloso em registos históricos.
O evento põe duas marcas no calendário: uma que festeja o encerramento do mortiço Inverno (de carácter pagão), outra que antecede a sobriedade da Quaresma (de carácter cristão). Em ambos os casos, há uma ligação imediata com a Primavera e a sua chegada às povoações, que lhes traz o período das sementeiras de volta e ficando a alimentação feita à base de carne à parte.
As máscaras e os fatos berrantes dos caretos revelam isso, nem mais, nem menos. O regresso à cor e à vida. O regresso à irreverência da terra, que mostra os seus verdes descaradamente outra vez, depois de três meses em hibernação. O Careto é uma versão antropomórfica dela, e daí ter permissão para tudo, qual diabo à solta. Tudo, excepto entrar igreja adentro, porque lá não se querem encarnações do que é malévolo. Correm pela aldeia, acima e abaixo, à procura de mulheres para as fecundarem – entendam o uso deste verbo de outra forma que não a literal, por favor. Por fecundar, devemos ler chocalhar, um abrupto movimento onde os caretos, com uma dança de cintura, fazem com que os chocalhos que carregam batam nas mulheres, inseminando-as. Mais uma vez, conseguimos encontrar o simbolismo da situação, sendo a relação dos caretos com as mulheres uma boa analogia com a fertilidade que a terra começa, naquela altura, a ganhar.
Os trajes destes diabos transmontanos são feitos de colchas vermelhas, decoradas com franjas de lã colorida, e máscaras angulares de folha de zinco, encarnadas, podendo ser ornamentadas com tinta. Por cima da cabeça, cobrem-se com um capuz de onde sai uma longa cauda, também ela usada como catalisadora do acto sexual aqui simbolizado. E depois, à cintura, o que mais importa, uma alinhada colecção de chocalhos e os seus repiques, os quais ouvimos sempre que, em grupo, os Caretos, quase todos solteiros, aceleram em direcção às mulheres.
O abandono da terra morta, e por consequência, a chegada da terra viva: este, afinal, é o verdadeiro significado do Carnaval, pelo menos do Carnaval no hemisfério Norte, ao qual se juntou depois a visão cristã da coisa, que remete para a chegada da Quaresma e a necessidade de esbanjar todos os excessos antes de entrarmos nesse período de contenção. Foi depois transportado para o hemisfério sul e lá sofreu transformações óbvias, porque o significado do outro lado nunca poderia ser o mesmo, sendo lá Verão.
A vasta maioria das pessoas que o festeja por cá não se apercebe disso, e chega a ser, por vezes, hilariante, observar uma óbvia e decadente tentativa de imitação do Carnaval do Rio em algumas terras portuguesas, com tantas mulheres quase semi-nuas a darem a sua pele a temperaturas que chegam a bater nos zero graus. Felizmente que há Trás-os-Montes, a lembrar-nos o sentido natural das coisas. Bem haja o mês de Fevereiro transmontano, que, ano após ano, não tem medo de soltar os seus diabos nos Caretos de Podence.























































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